Uma professora nada carinhosa, alunos agitados e um fotógrafo calmo. Todos numa escola em um dia importante: tirar a foto da turma para guardar de lembrança para toda a vida. Esse é o cenário e o ponto de vista do narrador já adulto, também aluno dessa turma, que conta com muito humor as confusões que envolveram a organização para tirar a foto da turma.
Depois da leitura do conto de Goscinny, Uma lembrança para guardar com carinho, publicado no livro O Pequeno Nicolau (1986), os(as) alunos(as) dos sétimos anos A, B e C também deixaram registradas em fotos o que poderão lembrar com carinho do tempo de estudantes, como Godofredo, Agnaldo, Rufino e o narrador, personagens dessa aventura escolar da infância.
Ilda Quaglia - professora de Língua Portuguesa
7º A
7º B
7º C
Uma lembrança para guardar
com carinho
Hoje de
manhã todo mundo chegou muito contente na escola,porque nós vamos tirar uma
fotografia da classe, que vai ficar de lembrança para a gente guardar por toda
a vida, como a professora disse. Ela também disse para todo mundo vir bem limpo
e penteado. Eu entrei no pátio do recreio cheio de brilhantina na cabeça. Todos
os meus amigos já estavam lá e a professora estava brigando com o Godofredo,
que veio vestido de marciano. O Godofredo tem pai muito rico, que compra todos
os brinquedos que ele quer. O Godofredo estava dizendo para a professora que
ele queria de todo jeito ser fotografado de marciano e que, senão, ele ia
embora. O fotógrafo também já estava lá com a máquina, e a professora disse para
ele andar logo, porque senão a gente ia perder a aula de matemática. O Agnaldo,
que é o primeiro da classe e o queridinho da professora, disse que seria uma
pena não ter aula de matemática, porque ele gosta muito e tinha feito todos os
problemas. O Eudes, um colega muito forte, queria dar um soco no nariz do
Agnaldo, mas o Agnaldo usa óculos e a gente não pode bater nele tanto quanto
gostaria. A professora começou a gritar que nós éramos insuportáveis, que se
continuasse assim não ia ter mais fotografia e que ia todo mundo para a classe.
Aí o fotógrafo disse: “Vamos, vamos, calma, calma. Deixe que eu sei como se
fala com criança, vai dar tudo certo.”
O
fotógrafo resolveu que a gente tinha que ficar em três filas: a primeira fila
sentada no chão, a segunda em pé em volta da professora, que ia ficar sentada
numa cadeira, e a terceira, em pé em cima de uns caixotes. Esse fotógrafo tem
boas ideias mesmo. Fomos buscar os caixotes que estavam no porão da escola. Foi
muito divertido, porque não havia muita luz no porão e o Rufino enfiou um saco
velho na cabeça e ficou gritando: “UUU! Eu sou um fantasma”. E aí a gente viu a
professora chegar. Ela não parecia muito contente, então nós saímos depressa
com os caixotes. O único que ficou foi o Rufino. Com aquele saco ele não via o
que estava acontecendo e continuava gritando: “UUU! Eu sou um fantasma”, e foi
a professora que tirou o saco da cabeça dele. O Rufino levou um baita susto.
Quando chegou de novo no pátio, a professora largou a orelha dele e bateu com a
mão na testa e disse: “Mas vocês estão imundos.” Era verdade, a gente tinha se
sujado um pouco fazendo palhaçadas no porão. A professora estava zangada, mas
aí o fotógrafo disse que não fazia mal, que dava tempo da gente se lavar
enquanto ele arrumava os caixotes e a cadeira para a foto. O único que estava
com a cara limpa era o Agnaldo, e fora ele também o Godofredo, porque ele
estava com a cabeça dentro do capacete de marciano, que parecia um aquário. O
Godofredo disse para a professora: “Está vendo só, professora, se todos
tivessem vindo vestidos como eu não tinha acontecido nada disso.” Eu vi que a
professora estava com muita vontade de puxar as orelhas do Godofredo, mas não
tinha jeito de segurar, no aquário. Essa roupa de marciano é um arranjo
incrível!
(Goscinny.
O Pequeno Nicolau. Martins Fontes,
São Paulo, 1986)